Celebram-se este ano os 40 anos da
Democracia em Portugal …….
Uma Democracia nascida de um
golpe de estado e não da vontade de um povo, levado a cabo por um grupo de
militares que ainda hoje reclamam para si a propriedade dessa mesma democracia
e do valor liberdade.
Foi esta Democracia que
rapidamente se viu alvo da tentativa de substituição por um regime ditatorial
ainda pior que aquele que recentemente substituíra, ataque perpetrado por
aqueles que ainda hoje se auto-reclamam como únicos e verdadeiros defensores da
liberdade e “”conquistas de Abril”.
É esta Democracia que um mês
após a celebração do 40º aniversário festejará mais uma vez, desta feita a
terceira, o fim da ajuda externa à sua tão debilitada situação económica que
nunca por nunca foi capaz de fazer crescer de forma sustentada.
Uma Democracia cega porque não
aprendeu com os erros do passado, fechada porque assenta num sistema sustentado
por partidos políticos também eles fechados e envelhecidos e incapazes de olhar
para o país e para a sociedade portuguesa com responsabilidade e honestidade,
aquela que afinal lhes foi acometida pelo eleitorado através de processo
eleitoral.
Esta Democracia que faz tábua
rasa da sua ligação obrigatória com os Direitos Humanos
“A vontade de um povo é o fundamento
da autoridade dos poderes públicos; e deve exprimir-se através de eleições
honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto
secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto”.
É esta Democracia que esquece
princípios fundamentais como o respeito pelos direitos humanos, a independência
da justiça e o acesso a esta pelos grupos mais desfavorecidos, a transparência
e responsabilidade da administração pública, que é incapaz de reforçar a sua
capacidade de ajudar os segmentos mais vulneráveis e desfavorecidos da
sociedade, de sequer conseguir mobilizar todo um povo em torno destas questões
que uma vez mais vem para a rua manifestar-se e reclamar a defesa daquilo que
há 40 anos foi conquistado.
Uma Democracia que, iludida
pelos milhões de euros provenientes de subsídios Europeus assistiu a que grupos
de interesses dessem origem a corporações que viriam mesmo a controlar a sua
tutela com o único intuito de defesa dos seus objectivos particulares. Corporações
essas, que hoje em nome da Democracia, do interesse comum e dos valores que
realmente deveriam defender se manifestam quando, fruto duma situação que eles
próprios ajudaram e muito a criar, veem os seus mais egoístas interesses serem
beliscados.
É ainda esta Democracia
desprovida de valores que alimenta e promove a cegueira daqueles, dos chamados
“defensores das conquistas de Abril” que ininterruptamente reclamam e
esbracejam em defesa de um Estado a quem cabe a totalidade da responsabilidade
de tudo suportar e patrocinar, defendendo um “Estado Social” a qualquer
custo e sem responsabilidade nacional mesmo que isso implique a perda de
soberania.
A elite intelectual da
esquerda conseguiu construir uma “coisa” muito interessante a partir da Ditadura,
primeiro colar a Ditadura á Direita (causa-efeito: se és de direita, apoiavas a
ditadura, a favor da tortura, morte de inocentes, etc ), dai nasceu o cliché de
marketing politico “És fascista”…
Outra operação de marketing
politico brilhante foi vender a ideia/imagem que os indivíduos da Esquerda que
foram para a luta armada, tribunais arbitrários, saques e apropriações
indevidas, o fizeram pela liberdade… e portanto plenamente justificado.
Claramente uma atitude plena de hipocrisia.
Criou-se o monopólio de que as
ideias “auto-definidas” ou pré estabelecidas pela Esquerda são as ideias boas…
portanto, por exclusão, “as outras ideias” são más…
Criou-se o monopólio da
virtude, e como após o 25 de Abril a população buscava a virtude, sem sequer a
questionar, quer por capacidade, coragem ou conveniência. Foi imposta uma visão
dos factos históricos.
Agilizou-se o conceito da
guerra cultural, que chegou até aos nossos dias. A Esquerda se aquartelou numa
hegemonia intelectual, blindou-se na luta cultural por grupos.
Ser de esquerda é por exemplo
defender a legalização das drogas.
Ser de Esquerda é defender o
casamento Gay.
Ser de Esquerda é defender o
aborto.
Ser de Esquerda é
defender ser contra as touradas.
Todas estas ideias são consideradas
“generosas”, e ser contra estas ideias é ser fascista, alguém que quer o “mal
da sociedade”. A discussão é em torno de valores morais ou de civilização bem
claros. Existe uma imposição por parte dos monopolistas da “virtude” sem espaço
de debate.
A dignidade humana
exige a intervenção dos cidadãos na escolha livre dos eleitos, a sua consulta
nas grandes decisões do Estado, a transparência e a prestação de contas pelos
dirigentes e regras efectivas de controlo dos mandatos.
O medo dos
dirigentes do incêndio nos seus “rabos-de-palha” é a garantia da
cumplicidade. Em Portugal, a democracia continua a ser pisada por uma classe de
dirigentes, dominante no Estado, autora e parceira do Mal, impune à justiça e
imune à lei.
O primado do
Direito é substituído pelo primado do poder.
A direcção
do Estado - entendido na sua forma ampla, incluindo políticos, partidos,
dirigentes da administração pública, órgãos autárquicos, Media, alta finança, etc. - vive dentro de
muralhas impenetráveis regadas de doses generosas de maçonaria, num castelo
fechado à sociedade civil, um reduto em que a corrupção é aceite como facto
banal, erigida a regra consuetudinária, questão sem relevo face à impunidade de
crimes maiores. Políticos acusados de corrupção material e sob suspeita voltam
aos lugares cimeiros.
A
política transformou-se numa actividade com uma amoralidade própria, sem
respeito da moral em vigor na sociedade civil. À semelhança do Doppio Stato italiano, Portugal é agora um país duplo:
poder sem vergonha e povo envergonhado.
A corrupção, a imunidade e impunidade dos políticos resultam
do seu domínio das estruturas partidárias locais e nacionais e controlo dos
media tradicionais (TVs, rádios e jornais
nacionais e locais) mediante capatazes e negócios, e do controlo sobre o
sistema judicial, inclusive sobre sectores independentes das
magistraturas.
A liberdade de informação nos media tradicionais é limitada
pelos editores de confiança. A liberdade de expressão é coarctada pelo poder
legislativo. Os delitos de opinião são perseguidos pelo poder judicial, sob a
pressão do poder político para que sejam investigados de modo prioritário. Os
próprios media tradicionais, com raras excepções, servem os ataques dos aflitos
contra presumidos delitos de opinião. A blogosfera, com a vantagem de estar
territorialmente localizada no estrangeiro, é objecto de ataque judicial e dos
media antigos por causa da liberdade de que ainda vai usufruindo.
Os pactos de regime são percebidos pelo público como a
essência da conservação da ruína do sistema.
A
emancipação política é um produto das condições de aumento e alargamento da
instrução. O povo quer participar da política, nas decisões e no exercício
político. Entende que a política é uma actividade demasiado importante para ser
deixada apenas aos políticos. Como se determinado crime não
pudesse ser investigado com a justificação de que não é oportuno…
A
ânsia popular de democraticidade decorre da lenta emancipação do povo.
Há
uma consciencialização lenta que demorou e que finalmente se consolida.
Orlando Rubio
Alexandre Gonçalves