Obrigatório PENSAR

Obrigatório PENSAR

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Os números são uma verdade de 'La Palisse'.



Numa das intervenções do Senhor Presidente da CM de Alcochete na última Assembleia Municipal extraordinária, cujo tema central se focou na situação financeira do município e na necessidade de contratação de empréstimo bancário a médio e longo prazo, este voltou a afirmar que “um responsável” da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo “obrigou o executivo municipal a desistir de vários projectos” cofinanciados!

Ora, como já tivemos oportunidade de informar, o que o Senhor Presidente pretendeu insinuar como sendo um acto persecutório de um dirigente “nomeado pelo CDS-PP”, reafirmamos nós que não passou de um procedimento regulamentar do órgão que gere estes projectos, (que se quer cumpridor da Lei e da boa gestão dos fundos), e que foi tão só consequência dos sucessivos incumprimentos da Câmara no que se refere a todos os prazos possíveis para a execução material e financeira desses referidos projectos, pondo em causa a boa afectação das verbas, a boa utilização dos fundos comunitários e ainda impossibilitar outros beneficiários em melhores condições financeiras e com melhor capacidade de gestão, de utilizarem esses apoios.

Mas as afirmações repetidamente proferidas pelo Senhor Presidente, forradas de insinuações inverosímeis e de acusações que pretendem responsabilizar outros por aquilo que o executivo de maioria CDU não sabe fazer bem, ou não sabe fazer de todo, mais não são que manobras para encobrir a verdadeira incapacidade de governar no sentido do interesse de Alcochete.

Mas para exemplificar até onde se repercutem as reais dificuldades financeiras da Câmara, sempre negadas pelo executivo, atentemo-nos sobre o projecto de caminhos do PRODER, alvo de notícia num jornal local, com contornos propagandistas e pouco rigorosos, que não informa o verdadeiro ponto de situação sobre este investimento; a verdade é que o município contratou este projecto ao PRODER Caminhos Rurais em 2010, para o executar em dois anos conforme clausulas contratuais, com um investimento total na ordem dos 800.000 euros, e só em 2014 (ano final da vigência deste quadro comunitário e no prazo limite admitido pelo regulamento do PRODER), conseguiu apenas executar desta verba, um investimento 157.861,45 euros para 3 caminhos, por processo de ajuste directo em vez de concurso publico, não garantindo a devida transparência, nem a melhor relação qualidade/preço, nem a defesa dos interesses de Alcochete. Verifica-se assim que vai ter que se devolver cerca de 200.000 euros, adiantados pelo fundo comunitário, por não utilização!

Considerando que tal projecto prevê uma “comparticipação comunitária de 85% sobre o valor contratual sem IVA” (lê-se na noticia), verba da qual o “Estado não é dono”, como foi afirmado pelo Senhor Presidente, só a total incapacidade financeira da Câmara para assegurar a parte não comparticipada do investimento (autofinanciamento de 15%), justifica este esbanjamento de oportunidades e dos apoios a fundo perdido. Por este exemplo, torna-se por demais evidente que, como diz o povo, estamos com a corda na garganta. Também não é menos evidente que o caminho de há largos anos até hoje, não serviu para corrigir nada.

Devido à crise e ao plano de assistência financeira, as empresas, as famílias, mas também os municípios portugueses, foram obrigados a rever as práticas de gestão dos seus recursos e de forma mais premente que antes, introduziram a palavra sustentabilidade nos argumentos de decisão e de gestão.

A legislação para os municípios foi alterada, mas aplica-se a todos os municípios e de nada vale ao executivo de Alcochete o lamento e a tentativa de desresponsabilização por não ter conseguido assimilar, corrigir, prevenir, ter visão, construir estratégia e nada fazer para alterar a realidade financeira do município; a sua dependência das mesmas receitas e o contínuo aumento da dívida.

Nada foi corrigido para conter a despesa. Nada foi feito para estimular a economia local. Nada foi feito para sair do ciclo vicioso, desde cedo denunciado, de aumento da despesa e consequente aumento do endividamento e nota-se agora também que nada fez para evitar o desperdício de fundos comunitários.

No programa eleitoral autárquico de 2013, o CDS-PP apresentou um diagnóstico realista da doença financeira da Câmara, apresentou medidas alternativas para conter a despesa e estimular o crescimento económico do município, mas que foi sempre e sucessivamente desmentido.

Vem agora o Senhor Presidente da CM e seus Vereadores CDU, anunciar a cura para a doença financeira da Câmara, contratando novo empréstimo bancário, desta vez de 7 milhões de euros, penhorando até 2025 a parcela restante do futuro de Alcochete, deixando sem qualquer margem de evolução para os próximos 12 anos, sustentando tal decisão num atabalhoado Plano de Saneamento Financeiro da Câmara, que promete realizar-se com base em miragens como a receita do IMI (apresentando números comprovadamente irrealistas), em venda de património imobiliário (num momento de desvalorização generalizada) e, entenda-se “custe o que custar”, aumentando outras taxas e impostos. Tudo para garantir o cumprimento deste empréstimo. Por exemplo, prever um aumento de receita de IMI superior a 40%, a tão largo prazo, quando, a partir de 2015, ano já sem os efeitos da cláusula de salvaguarda, a tendência será a redução do valor dos imóveis para efeitos fiscais, nem que seja pela iniciativa dos contribuintes.

Desperdício, incapacidade e incompetência, são o que se torna evidente desta gestão municipal (a dívida quadruplicou desde 2009), que vem sendo encoberta por verborreia contínua, com discurso dilatório e ensopado de inconsistências e de deturpação dos factos agora demonstrados e irrefutáveis.

É impossível negar a evidência, mas mesmo assim, em outra intervenção do Senhor Presidente da Câmara na AM, este cuidou de corrigir o cumprimento de “boa tarde” de um deputado municipal do CDS e “esqueceu” o devido justificativo sobre as contas do município. Ainda lamentou que durante o debate da campanha eleitoral para as autárquicas, que a falta de imparcialidade do moderador não lhe tenha permitido esclarecer sobre a falta de sustentabilidade financeira das contas da Câmara. Faz sentido? Não, mas aparentemente, só alguém absolutamente convencido que está perante uma plateia de gente incapaz, é que pode acreditar que acreditam nele.

Para quem tanto verbaliza contra as políticas do Governo, apelidando-as de pacto de agressão e que agora apresenta a solução através de mais endividamento bancário a 12 anos, acompanhado de um “brutal” aumento de impostos a aplicar aos Alcochetanos num momento de crise, contradiz as suas próprias palavras e admite a sua total incompetência para estar à frente dos destinos desta população. A título exemplificativo, só a proposta de aumento da taxa de IMI de 0,4% para 0,45%, fará com que os Alcochetanos passem a pagar mais 12% deste imposto: é um aumento de 50 euros para quem tem um imóvel com um valor patrimonial tributário de 100 000 euros. 

O CDS-PP votou contra esta proposta do executivo de maioria CDU de mais endividamento, assente no modelo de constante défice e demonstrativo de total incapacidade de administração pública, de apresentação de soluções sustentáveis e de defesa do futuro do município.

Mas o CDS-PP, cumprindo o seu programa eleitoral e contrariando a estratégia deste modelo gasto e falido, apresentou nesta mesma Assembleia, uma proposta de elevado interesse para toda a população de Alcochete e que possibilita uma efectiva redução de despesa, desta feita em matéria de iluminação pública. Solicitámos ao executivo a marcação de uma reunião para discussão de um projecto técnico para a área da iluminação pública, prevendo a sua execução com apoios comunitários e sustentado num estudo onde se pode ler:
“Se calcularmos os valores mensais num período de tempo alargado a Autarquia na vertente Iluminação Publica passaria a ter um gasto médio anual de 616.064,40€, em vez de 1.414.823,76€, com a implementação deste projecto.”

Não perguntem o que Portugal pode fazer por nós, mas o que podemos fazer por Portugal.

22, de Julho de 2014


Vera Alves


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