O Bloco prometia. Não há muito tempo parecia representar a iniciativa partidária com maior futuro no voto urbano. Alternativo, não alinhado, pensante e, às vezes, divertido (O Zé faz falta). O selo da Esquerda pretendia conferir-lhe um estatuto intelectual e fashion. Na capital, conquistou não só o Lux, mas alguns salões de má consciência social. E foram muitas as personalidades que deram uma ajuda. Apareceram rostos independentes e/ou desempoeirados. O Zé, o Rui, o Daniel, o Pureza, depois do Fernando e do Miguel. De um deputado, depressa caminhou para vários mandatos. Conquistou espaço em Lisboa, com a eleição de um vereador e até no Parlamento Europeu, com três.
E o que fez com isso? Assustou-se. Em vez de caminhar para um Partido maior, com muitas vozes e dinamismos diferenciados, o Bloco preferiu continuar um carrinho de mão do Francisco Louçã, empenhado em afirmar o que não é. Não é moderado, também não é comunista. Correu com os independentes, inviabilizou as alianças, arrependeu-se dos apoios fora do seu claustro. O resultado é um Partido sem norte. Tenta capitalizar o descontentamento social, mas fá-lo com o desconforto de quem não é das massas operárias. Restam os indignados desta vida, que são demasiado residuais. E pouco mais. O Partido desapareceu nas eleições regionais da Madeira e arrisca-se a voltar a ser pouco mais que a UDP. O seu sucesso fará lembrar uma erva que se fumou e fez rir. Mas nem ressaca deixou. E assim se verá como o Bloco era ôco.
Por Filipe Anacorreta Correia
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